terça-feira, 29 de dezembro de 2009

QUANDO NÃO SE REFLETE, SE ENGOLE: NO BRASIL A ARTE MODERNA FOI POSTA EM PRÁTICA ATRAVÉS DE UMA DITADURA FORMALIZADA NA BURGUESIA, COM APOIO POLÍTICO.

O QUE A SEMANA DE ARTE MODERNA DE SÃO PAULO EM 1922, REPRESENTOU NO PANORAMA CULTURAL DO PAÍS?!? TERÁ SIDO APENAS MAIS UM ENGODO, FORMALIZADO COM AS ARTEMANHAS POLÍTICAS DO BRASIL?!?


SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922

Foi uma mostra do que imaginavam ser revolucionário no campo das artes e uma tentativa de mostrar a expressão do povo, em sua linguagem e sua cultura, assim foi realizada a Semana de Arte Moderna de 22. Encontro marcado com a alta sociedade do Estado de São Paulo.

Dentre os participantes, destacam-se: na literatura, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Ronald de Carvalho, Manuel Bandeira, Menotti del Picchia, Graça Aranha e outros. Nas artes plásticas sobressaem pintores como Di Cavalcanti, Anita Malfatti, e no campo da escultura, Vítor Brecheret. Muitos artistas da época não participaram deste evento, pois se tratava de um encontro da burguesia Paulista.

A maior expressão da música de vanguarda do Modernismo no Brasil é Heitor Villa-Lobos. A Semana de Arte Moderna insere-se num quadro mais amplo da realidade brasileira. Vários historiadores já a relacionaram com a “revolta tenentista” e com a “criação do Partido Comunista”, ambas de 1922. Embora as aproximações não sejam imediatas, foi visível o desejo de mudanças que acontecia no país, tanto no campo artístico, como no campo político.

Um dos equívocos mais freqüentes das análises da Semana de 22, consiste em identificá-la com os valores de uma classe média emergente. Ela foi patrocinada pela elite agrária paulista. E os princípios nela expostos adaptavam-se às necessidades da “refinada oligarquia do café”. Umas oligarquias cosmopolitas, cujos filhos estudavam na Europa e lá entravam em contato com o dito "moderno". Uma oligarquia desejosa de se diferenciar culturalmente dos grupos sociais. Enfim, uma classe que encontrava no jogo europeísmo (adoção do "último grito" europeu) - primitivismo (valorização das origens nacionais) - que marcaria a primeira fase modernista – a expressão contraditória de suas aspirações ideológicas.

Outro equívoco é considerar o movimento como essencialmente anti-burguês. O poema Ode ao burguês, de Mário de Andrade, e alguns escritos de outros participantes da Semana podem levar a esta conclusão. Mas nunca podemos esquecer que a burguesia rural apoiou os renovadores. E, além disso, toda crítica dirigia-se a um tipo de “burguesia urbana”, composta geralmente de imigrantes, inculta, limitada em seus projetos, sem grandeza histórica, ao contrário das camadas cafeicultoras, cujo nível de refinamento cultural e social era muito maior. Neste caso, os modernistas se comportam como aqueles velhos aristocratas que menosprezam a mediocridade dos "novos-ricos".
NA REALIDADE O QUE SE PASSOU FOI UM GRANDE PLAGIO

Paul Cezanne

Anita Malfatti

OBJETIVOS DA SEMANA DE ARTE MODERNA

- Contra o passadismo – como diz Aníbal Machado: “Não sabemos definir o que queremos, mas sabemos discernir o que não queremos”;
- Contra a rigidez formal, o hermetismo, o culto de rimas, o verso perfeito dos parnasianos;
- Contra a oratória, a eloqüência, a linguagem classicizante; procura de uma linguagem mais coloquial, mais próxima da língua falada;
- Contra o tradicional acadêmico;
- Seguindo fundamentalmente três preceitos: direito à pesquisa; estabelecimento de uma consciência nacional; atualização da inteligência artística brasileira.

A importância estética da Semana de 22 é realizada por jovens inexperientes, sob o domínio de doutrinas européias nem sempre bem assimiladas, conforme acentuam alguns críticos, ela significa também o atestado de óbito da arte dominante. O academicismo plástico, o romantismo musical e o parnasianismo literário esboroam-se por inteiro. Assumi-se a destruição da academia de Belas Artes, já sendo conduzida por mestres brasileiros, abala-se a estrutura da arte brasileira em seu potencial, apenas para satisfazer a euforia de uma minoria que dominava a mídia e a política no centro sul do Brasil, e estava de amores com as modas na arte européia.

OS ESTILOS ERAM COPIADOS DA EUROPA
Henri Rousseau

Tarsila do Amaral

Ela cumpriu a função de qualquer vanguarda: exterminar o passado e limpar o terreno. É possível, por outro lado, que a Semana de 22 não tenha se convertido no fato mais importante da cultura brasileira, como queriam muitos de seus integrantes. Há dentro dela, e no período que a sucede imediatamente (1922-1930), certa ironia superficial e enorme confusão no plano das idéias. Com efeito, os autores que organizaram a Semana colocaram a renovação estética acima de outras preocupações importantes. As questões da arte são sempre remetidas para a esfera técnica e para os problemas da linguagem e da expressão. O principal inimigo eram as formas artísticas do passado. Matar o passado para se vangloriar das mudanças culturais, que nunca aconteceram na verdade, ficou apenas a irônica modernidade fabricada, que não aconteceu, apenas, foi imposta por grupos dominantes, coisa que sempre foi comum no Brasil. Agora, com o passar dos tempos, pode-se refletir melhor, sobre a grande bobagem que foi esta Semana de 1922, pois atrasou a evolução da cultura artística nacional em décadas, e o Brasil ainda hoje, é viciado em plagiar a arte estrangeira.

A arte no Brasil, nunca esteve dependente desta casual Semana de 1922, mal compreendia pela maioria dos brasileiros, pois muitos dos grandes artistas modernos do Brasil não tiveram nenhuma ligação com tal fato, esta idéia foi proposta para, atualizar a intelectualidade brasileira em relação à Europa, mas pouco trouxe para a arte a não ser a mentalidade política de dominação cultural. Porém, tal processo, não elevou o valor da Arte como se imagina e não tardou a repetir-se o fato, com a criação da Bienal de Arte de São Paulo, onde se fez continuar “os monopólios na arte brasileira”.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

FARSA EM CIMA DE FARSA, EIS A QUESTÃO DA ARTE NO BRASIL. MERCADO MORTO PARA OS ARTISTAS PLÁSTICOS, O PIOR VIRÁ!


A DESGRAÇA DA CULTURA, ESTÁ OFICIALIZADA. O POVO JÁ VIVE UM DILEMA: SE TUDO É ARTE, ENTÃO PARA QUE ARTE?


São poucos que tentam falar sobre o que ver e dizer o que sente, pois a grande TEMPESTADE DE IDIOTISMO que inunda a mente da sociedade atual anula qualquer possibilidade de evolução. Na arte contemporânea, estamos vendo, principalmente no Brasil, uma guerrilha covarde e oculta, coordenada por elementos intitulados: “responsáveis por setores culturais do País”. Não precisamos ir muito adentro, para se ver a grande manobra que se faz na cultura brasileira, tudo através de órgãos acobertados pelo próprio governo. Tem-se a impressão de que tudo corre bem, mas, quando se investiga a questão a fundo, encontra-se a CARNIÇA ESCONDIDA, por traz de Instituições Públicas, Museus, Universidades e outros Órgãos. Não passa de um imenso cartel, de pessoas aventureiras e artistas frustrados, famintos por empregos de origem eleitoreira ou concursos acobertados, erguendo-se majestosamente em instituições culturais, como diretores, coordenadores, secretários de departamentos ligados diretamente à cultura do país, sangrando a economia do país, levando todas as espécies de vantagens sobre o dinheiro dos impostos do povo brasileiro. A crise da consciência artística é mundial, mas se podermos apenas, ver o que está acontecendo no Brasil, já se poderia salvar uma grande quantidade de almas, “a condenação ao extermínio”, pois quem levará a pior, são os bons artistas, intelectuais que lutam por uma arte séria, sem farsas e sem hipocrisia.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

EXISTE UMA GRANDE AVALANCHE DE “COISAS”, QUE SÃO COLOCADAS NO ALTAR DA ARTE CONTEMPORÂNEA, APOIADAS POR FORÇAS OCULTAS.


Entrevista com Ferreira Gullar, um dos maiores críticos de arte do Brasil, que foi realizada pela Folha de São Paulo, em 18 de abril de 1993. Ferreira Gullar é autor do livro “Argumentação contra a morte da Arte” e é entre muitos nomes da Intelectualidade Brasileira, quem sabe mostrar a avalanche de porcarias produzidas pelos artistas contemporâneos, e que a nossa sociedade, está sendo imposta a ver e consumir.

Folha - O ponto de partida de sua "Argumentação contra a morte da arte" é a rejeição da idéia de que a arte evolui. Mas não existe de fato um aprimoramento técnico em certas linhagens?

Gullar - O que critico é essa supervalorização da idéia de evolução, que é o princípio da vanguarda. Quer dizer, valores estéticos não contam; só conta a novidade. Acontece que a idéia de vanguarda acabou. Esse princípio da inovação conduziu a um impasse e este aos absurdos que estão aí. Então a arte acabou!? Não há nada de novo para fazer. Claro, falo do novo pelo novo que é uma coisa autofágica. O novo é inerente à grande arte; nenhum poeta digno quer fazer o que já foi feito. Ele tem uma proposta, não quer dizer o que está dito.

Folha - Mas quais seriam esses "valores" estéticos?

Gullar - Permanência. É isso que é arte: a busca de fundar o permanente. Chegou-se, nas últimas décadas, ao cúmulo de criar a "arte do efêmero" do "perecível", o que é uma contradição em termos. O artista busca o permanente para assim motivar a realidade. Vou dar um exemplo. O Ibac está doando obras para o acervo do Museu Nacional de Belas Artes em breve. Outro dia encontramos lá uma coisa, que é um pedaço de ferrolho que era emendado com um pedaço de borracha. Não sei quem é o autor. Que vou fazer? Cadê o pedaço de borracha, como era a emenda? Esses caras negam a permanência da obra de arte, mas eles acreditam na "sublimidade" da arte, em que não acredito absolutamente. É só botar o ferrolho lá, que vem outro cara e escreve uma lauda complicadíssima. Transformamos o mundo de duas maneiras: ou poeticamente ou simbolicamente. Essa gente destrói a linguagem visual, mas consagram a verbal. Que revolução há nisso?

Folha - O público não gosta da arte contemporânea. O problema está nele, que não gosta da arte que exige esforço e conhecimento, ou isso é genuíno?

Gullar - Esse público se divide em dois. Existe o cara de cabeça acadêmica, que ainda não entendeu Picasso, e tenta nos imputar seu preconceito. E existe o outro lado: o cara que chegou a Picasso, Matisse, mas não é um estudioso de arte, não é um teórico, e portanto não entende nada.

Folha - Por que o sr. acha que as artes plástica, especificamente, descambara em tanta fajutice?

Gullar - Não sei. É uma boa pergunta, sempre me indago isso. Em todos os outros campos da atividade artística, o vanguardóide foi superado. Quando a coisa ameaça a própria natureza da expressão, há a percepção disso. todos reconhecem a arte, o gênio de "Finnegans Wake", de Joyce, mas ninguém vai tomar aquilo como exemplo, como modelo. Por que na pintura não se deu isso? Realmente não sei. Presumo que há um problema institucional. Bienais, centros culturais, os especialista, eles não se lixam para o público. Formam uma gangue, uma seita, que pouco se lixa para a sociedade. E o Estado paga isso; não entendo.

Folha - O que o sr. pensa "dois" gurus: um da geração anterior, Hélio Oiticica, outros desta, Cildo Meireles?

Gullar - Acho que exageram a importância de Hélio Oiticica. Ele foi vítima de um radicalismo; não é por acaso que se entregou às drogas no fim da vida. Lygia Clark foi mais importante, apesar de todo o talento do meu amigo Hélio. Os "Parangolés" só existem como teoria. Eu fui um desses teóricos, até que um dia senti um vazio debaixo dos pés. Cildo Meireles também tem talento. Vi uma instalação dele no começo da carreira que era bem interessante, criava uma atmosfera forte, tinha subjetividade. Mas das últimas coisas não gosto, não. Esse cerebralismo duchampiano teve sentido em determinada época, mas subsiste como arte.

A VERDADE NÃO SE APAGA E A LÓGICA NUNCA É DESTRUIDA, A ARTE CONTEMPORÂNEA É VISIVELMENTE UMA ANEDOTA, UMA FARSA DIANTE DO GOSTO DA HUMANIDADE.


Para termos uma pequena demonstração sobre a decadência das propostas artísticas de hoje, ao ouvirmos palavras de pessoas de grande potencial analítico e opiniões de grandes críticos de arte, chegamos a crer, que na atualidade, existe um desvio completo na percepção dos indivíduos da sociedade. Um mecanismo sem total coerência que leva ao entorpecimento de indivíduos da era da computação. Mostramos aqui, entre muitas opiniões existentes, a “falha intelectual da nova sociedade”, uma prova de que existe algo podre no ar. Mostramos aqui, uma entrevista, realizada pela Revista Veja, em 25 de abril de 2007, com o australiano Robert Hughes, de 68 anos, o mais conhecido crítico de arte vivo. Por três décadas, ele foi editor da revista americana Time. De Nova York, onde vive com a mulher, a pintora Doris Downes, Hughes concedeu uma entrevista em que exalta os mestres do passado, condena o mercado de arte de hoje e fala sobre seu acidente.

Veja – O senhor escreveu sobre assuntos tão variados quanto a arquitetura de Barcelona e a história da Austrália, mas o único artista ao qual devotou um livro individualmente foi Goya. Por que ele é tão especial?

Hughes – Como todo grande artista, o primeiro dado essencial sobre Goya é que sua obra extrapola seu tempo. Por meio de sua trajetória e de suas idéias, pode-se entender melhor a história da Espanha e da Europa. Mas não só. Mais que qualquer outro pintor, Goya nos permite obter um conhecimento profundo da natureza dos sentimentos e da idéia de justiça, assim como de seus reversos, a injustiça e a crueldade. Nós vivemos num mundo de ironias extremas e de paixões e agressões tão desatinadas quanto as de que trata Goya. A loucura de que ele nos fala é universal e atemporal. Apesar de representar tanto para a arte, ainda faltava um livro que o alçasse à sua devida dimensão. Julguei que era uma tarefa importante fazê-lo.

Veja – O senhor concebeu a obra quando se recuperava de um acidente de carro quase fatal que sofreu em seu país, a Austrália. De que forma isso o influenciou?

Hughes – Volta e meia, sou acometido por vívidas recordações daquilo que se passou em minha cabeça naqueles dias difíceis. Tive alucinações e sonhos absurdos. Se fosse um pintor, certamente teria vasto material para me inspirar. Eu renasci depois do acidente. Ele me levou a conhecer a experiência da dor. E também a sentir o medo da morte como algo concreto. Isso tudo sem dúvida se refletiu no livro. Hoje, acredito que um escritor que não conhecesse o medo, a dor e o desespero não teria uma visão completa do universo de Goya. Não estou dizendo, é óbvio, que seja necessário quase perder a vida num acidente para entender um artista. Mas isso certamente facilitou a apreciação da matéria-prima de sua obra, o sofrimento.

Veja – Em seu recém-publicado volume de memórias, o senhor conta como uma viagem a Florença durante a enchente que destruiu boa parte da cidade italiana e de seus tesouros, em 1966, fixou sua crença no valor do passado para a arte. Por que chegou a essa conclusão?

Hughes – Em Florença, vivi a experiência de encontrar destroços de peças renascentistas em meio à lama, uma tragédia que me fez compreender de uma vez por todas que aquilo que foi criado no período de ouro da arte é insubstituível. Não apenas porque não se poderiam refazer tais obras. Vivemos numa era muito pobre em matéria de artes visuais. Hoje se podem encontrar bons escultores e pintores, mas a idéia de que a arte atual possa um dia se igualar às enormes realizações do passado é um disparate. Nenhuma pessoa séria, por mais que se empolgue com a arte contemporânea, poderia acreditar que ela um dia será comparada àquilo que foi feito entre os séculos XVI e XIX.

Veja – Como as pessoas podem se relacionar com a obra dos grandes pintores do passado?

Hughes – Olhando para o que eles produziram. Aprendendo a entender e a amar sua arte. Os mestres da pintura se relacionam a nós da mesma forma que as grandes obras literárias e as composições musicais do passado. Como o homem atual pode se relacionar com Cervantes? Por meio da leitura de sua obra. Dom Quixote continuará sendo uma história contemporânea em qualquer tempo e lugar. É preciso ter em mente que a arte é feita antes de tudo para deliciar os olhos e o espírito. É por meio desse apelo intuitivo que ela nos arrebata e conduz, no fim das contas, a um conhecimento mais profundo de nossa natureza.

Veja – Qual o papel das artes plásticas na formação cultural de uma pessoa?

Hughes - Não recomendo que se olhe para os grandes artistas com o intuito de atingir um nível cultural superior, pois, como já disse, o objetivo maior da arte é dar prazer. Mas posso falar de seu caráter enriquecedor pela minha própria experiência. Muito antes de eu me tornar um crítico, a arte desempenhou um papel fundamental em minha vida, na medida em que me fez entender certas questões existenciais mais claramente do que qualquer livro ou aula teórica o fariam. Seria um exagero dizer que se pode educar alguém por meio da arte. Mas ela é capaz de fazer de nós pessoas melhores e mostrar que existem muitos mundos além do nosso umbigo.

Veja – Certas correntes do modernismo difundiram a idéia de que o passado é um peso do qual a arte precisa se livrar. O que o senhor pensa disso?

Hughes – A noção de que há uma oposição entre o presente e o passado é estúpida. Trata-se de uma deturpação vulgar do ideário modernista de primeira hora. Ele consistia em questionar o tradicionalismo, mas não a herança dos antigos mestres. Os futuristas italianos, é verdade, chegaram a propor a destruição das obras de arte criadas no passado – como se fosse possível apagar sua influência apenas com sua extinção por meios físicos. Mas o fato é que toda arte digna de nota feita no século XX se baseou no passado. Os modernistas que realmente importam, como Matisse e Picasso, nunca se pautaram por sua rejeição. Muito pelo contrário: as fontes de que extraíram sua inspiração foram os artistas da Renascença e do século XVIII.

Veja – O senhor teve contato pessoal com artistas como o americano Andy Warhol. Quais suas impressões dele?

Hughes – Warhol foi uma das pessoas mais chatas que já conheci, pois era do tipo que não tinha nada a dizer. Sua obra também não me toca. Ele até produziu coisas relevantes no começo dos anos 60. Mas, no geral, não tenho dúvida de que é a reputação mais ridiculamente superestimada do século XX.

Veja – E quanto ao francês Marcel Duchamp?

Hughes – Foi um prazer conhecê-lo, embora certamente não seja o primeiro artista em minha lista dos mais importantes de sua época. Sua elevação à condição de figura nunca me convenceu. Já vi de perto todos os trabalhos que ele fez e nunca obtive nenhum prazer com eles. Duchamp não foi um grande artista, e sim um homem de idéias notáveis. Pessoalmente, prefiro um pintor como o francês Pierre Bonnard. Muita gente considera Duchamp um deus e Bonnard um impressionista enfadonho. Mas eu gostaria muito mais de ter em casa um de seus belos quadros do que um trabalho de Duchamp. Além disso, a influência de Duchamp sobre a arte contemporânea foi liberadora, mas também catastrófica.

Veja – Por quê?

Hughes – Porque ser o pai dessa bobagem chamada arte conceitual não é uma distinção de que se orgulhar. Para compreender o tamanho do estrago, basta dizer que sem ele hoje não haveria as chamadas instalações, aquelas obras tolas em que o espectador é convidado a passar por túneis e outros recursos infantis. Ou precisa ler uma bula para entender o que o artista quis dizer.

Veja – Nos últimos anos, obras de grandes artistas atingiram preços astronômicos em leilões. O que explica que se paguem 104 milhões de dólares por uma tela de Picasso?

Hughes – Francamente, não consigo imaginar uma boa razão. Os preços se tornaram tão obscenos e sem sentido que, a meu ver, só podem ser resultado de algum tipo de doença social. As pessoas que se sujeitam a pagar tanto por um quadro são movidas por motivações ridículas, como ostentar seu prestígio e poder. Não compactuo com essa insanidade.

Veja – Não há arte que valha tanto assim?

Hughes – Para mim, nem a maior obra-prima. A supervalorização atende aos interesses de certos marchands e colecionadores, mas é danosa para a arte. Passa-se a valorizar um artista ou tendência em função de seu cacife no mercado, e não da importância de suas realizações. Além disso, sua transformação em bem de consumo de luxo muitas vezes dificulta que um dia o grande público possa contemplá-las em museus.

Veja – Nas últimas décadas, o interesse pelas artes plásticas parece ter diminuído – desde sua saída da Time, por exemplo, a revista não tem dado o mesmo destaque ao tema. A arte perdeu sua centralidade?

Hughes – É triste, mas o fato de as pessoas terem obsessão pelos altos preços pagos por quadros famosos não significa que elas queiram saber algo mais sobre arte em si. Ela passou a ser vista apenas como um item a mais no cardápio do entretenimento, como as atrações do cinema e da TV. E também a ser avaliada com base nos mesmos parâmetros. Fala-se de um artista não por sua relevância, e sim pelo valor que suas obras atingem – como se fosse o orçamento milionário de um filme. Ou então por sua popularidade – como se fosse o índice de audiência de um programa.

Veja - É uma visão distorcida.

Hughes – É claro que sim. Daqui a vinte anos, veremos quanto se pagará pelas obras de um sujeito como Hirst – que, aliás, não me interessam nem um pouco. Hirst e outros de sua geração fazem do escândalo uma arma de marketing. Mas um renascentista como Piero della Francesca conseguiu ser radical num nível que ele nunca passou nem perto de alcançar.

Veja – O que o senhor pensa desse esforço dos curadores de museus para transformar as exposições em entretenimento para as massas?

Hughes – Não sou contra o entretenimento, em princípio. Só penso que não é função do museu preocupar-se em produzir eventos com esse fim. Há mostras maravilhosas que calham de ser realmente populares. Só que pode haver outras também maravilhosas, mas que não têm tanto apelo – e é saudável que os museus continuem lhes dando espaço. É impossível determinar a qualidade de uma exposição em função de seu sucesso de público.

Veja – Para alguns especialistas, eventos como as bienais de São Paulo e Veneza tornaram-se obsoletos. O senhor concorda?

Hughes – Não ligo a mínima para bienais, trienais, quadrienais ou coisas que o valham. Elas hoje têm relevância apenas para os negociantes de arte. Por baixo da fachada novidadeira, a maioria desses eventos se transformou em feiras vulgares. Nunca estive na Bienal de São Paulo. Mas a de Veneza eu conheço bem. Alguns anos atrás, fui convidado a colaborar com seus organizadores e me vi em tal pesadelo que renunciei a meu posto. Já que é tudo comércio, melhor deixar para quem entende disso.

Veja – Países relativamente novos como o Brasil e a Austrália estão destinados a ter sempre um papel secundário na arte?

Hughes – Não direi que será sempre assim. Mas eles enfrentam um problema e tanto: não têm controle sobre o mercado. Parece-me inusitado que a Austrália amargue uma presença próxima do zero na arte mundial enquanto qualquer porcaria que se produz na Califórnia logo alcança visibilidade. A atmosfera do circuito internacional de arte é corrupta, já que se vive de criar modismos e falsos novos gênios para faturar. Essa é uma das razões pelas quais eu me aposentei como crítico. Prefiro me concentrar em alguns artistas cujo trabalho realmente importa a ver minhas resenhas sendo usadas para inflar as cotações alheias. O presente, em arte, é sempre um terreno pantanoso e sujeito aos golpes de marketing. Tome-se como exemplo o carnaval que se faz no momento a respeito da arte chinesa. A maior parte do que se convencionou rotular de pós-modernismo chinês é apenas uma empulhação bem promovida pelos marchands e casas de leilões. As vítimas deles são os colecionadores novos-ricos que pululam pelo mundo afora e compram tudo o que vêem pela frente. Eles podem ter dinheiro, mas não passam de idiotas e vítimas da moda.

Veja – Antes de se tornar um crítico, o senhor atuou como cartunista e também pintava. Há alguma verdade no velho clichê de que todo crítico é um artista frustrado?

Hughes – Absolutamente nenhuma. Eu me considero um artista completo, nem um pouco frustrado. Minha arte é escrever. Nunca tive inveja dos artistas nem escrevi nada com o intuito de me vingar deles.

Veja – O senhor coleciona arte?

Hughes – Não, por incrível que pareça. Tenho algumas gravuras de Goya que adquiri ainda na juventude e também telas de minha mulher, Doris. Mas nunca fui um colecionador. E vou lhe dizer por quê: logo descobri que, como crítico, isso não seria ético.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

ARTE ATUAL: CONFLITOS

Na história da evolução da humanidade, sempre existiu uma constante convivência com as artes, das mais rudes as mais sofisticadas civilizações, as artes aparecem na vida dos indivíduos. É nas artes plásticas, onde se consegue ter a maior quantidade de informações sobre as mais antigas culturas, tanto no desenho, como na escrita manual, nas gravuras ou nas esculturas, estão as maiores quantidades de informações culturais dos povos. Nas civilizações, egípcia, persa, fenícia, grega, romana, indiana, tibetana, chinesa, coreana, japonesa, africana, asteca, maia, inca e celta ficaram claros os processos artísticos utilizados pelas antigas sociedades humanas.



Todos os povos antigos fizeram “Arte’, por ser algo de necessidade de sua sobrevivência física e intelectual. Como um ato que estabiliza a estrutura social e a identidade cultural dos indivíduos. Em todas as civilizações existiram os autores e os cultivadores da arte, o que mostra, que o processo, “criador, criação e percepção”, sempre foi universal, e atravessa o tempo, e o espaço. Em todas as culturas, são observados modos de elaboração artística, desenvolvidos pelos artistas, gerando estilos, que apresentam aspectos individuais e coletivos. Os aspectos individuais são gerados pela ação do organismo físico-mental dos artistas e os aspectos coletivos são referencias iconográficas que influenciam os artistas através do contato visual ou através de uma afinidade do mesmo, pelo modo de elaboração de outro artista. A história da criação artística não pode negar a disponibilidade da sensibilidade humana a um referencial icônico do meio (necessidade de arte), pois o ser humano é naturalmente um consumidor de imagens. Sigmund Freud, faz uma relação entre o prazer estético e a libido sexual, como um estimulador primitivo da visão estética, demonstra que a sensibilidade estética é intrínseca ao ser humano, algo que nasceu com ele. Independente das idéias psicológicas, o que é notável, é que, o individuo, quando ainda jovem, tem afinidade com determinadas linguagens artísticas encontradas em seu meio, sejam estas sonoras, corporais ou plásticas, revelando uma pré-disposição sensorial, que o leva a formação de uma identidade intelectual.

A evolução estética no individuo, é idêntica em qualquer época e em qualquer civilização, pois se confrontarmos os desenhos infantis, de crianças do Japão, da África, da Austrália ou da França, observaremos que estas expressam os mesmos sinais arquetípicos, e só passam a apresentar as codificações padronizadas, após o amplo contato com o seu meio social. Daí, podermos concordar, que uma criança egípcia entre 3 e 4 anos de idade, nascida há 5 mil anos antes de cristo, desenhava um rosto com as mesmas características arquetípicas, que desenharia uma criança inglesa hoje, 7 mil anos depois. Este fato, demonstra que a mente, em seu estado sutil inicial, é atemporal e universal, apresenta uma disponibilidade orgânica e não reflete tanto “o processo evolucionista”. Por outro lado, se existir interferências externas no seu estado sensível e espontâneo, ela se comportará mais coletivamente, e aí, já se pode ver alguns sinais de padronização grupal, diminuindo o grau de individualidade na sua expressão gráfica.



Nas artes plásticas, os sinais da personalidade do artista, aumentam ou diminuem de acordo com a influencia de códigos coletivos. Atualmente, vemos que uma “prática mutante” coletiva, está impregnando o comportamento dos artistas, e mais intensamente o comportamento dos artistas das artes da “mais recente vanguarda”. Nota-se também, que as obras de arte, principalmente, as ocidentais ficam presas a certos padrões mutantes e monopolizadores, o que queremos dizer, é que: a arte contemporânea é adotada por alguns, como uma arte que sofre mudanças constantes, que se obriga a ser coletiva, que não tem relação com o passado e mais ainda, afasta a personalidade do autor, e segue uma “regra global de expressão”, que está sempre prestes a mudar. Esta arte de hoje, já vista por muitos, como “caçadora de novos conceitos” ou “charadas visuais”, não demonstra percentuais claros da individualidade do criador, é transformada em atos puramente momentâneos, que são geralmente copiados de “tais padrões em moda”, estimulam um comportamento como os das abelhas e das formigas, repetitivos e submissos aos dogmas das colméias e formigueiros ou seja, dos monopólios intelectuais.



E a Beleza? Seria um comportamento ultrapassado, dos gregos e dos romanos? Sim, se apenas fossemos contar o tempo em que foram produzidas, pela evolução dos dogmas e as mutações espontâneas das idéias humanas. Porém, gregos e romanos, sempre foram referencias para o mundo ocidental, os europeus e suas colônias. E o resto? As civilizações orientais? E as nativas, que não sofreram interferências da evolução ocidental em sua base cultural? Desapareceram? Ou os ocidentais sempre quiseram dominar o mundo da arte? A “Beleza” no resto do mundo, nunca foi presa a evolução ocidental (diga-se: a européia e suas colônias), e a grande parte dos registros culturais da pré-história, não foi nem sequer encontrada na Europa. Estes povos não ficaram condicionados aos dogmas estéticos ocidentais. Somente agora, há alguns anos, com a chegada da globalização dos sistemas de comunicação via Internet, é que começamos a ver, as padronizações estéticas chegando ao resto do mundo. Que imensa falta de liberdade, irão ter os povos não ocidentais daqui pra frente!

Na Índia, no Paquistão, na China, na Rússia, na Coréia, e tantos outros paises, os artistas não estão regidos pela paranóia do regime mutante da “Arte Contemporânea”, que impõe a “moda estética”, como norma inseparável da criação de idéias artísticas do momento atual. Estes valores, ainda não contaminaram muitas culturas orientais, porque a arte para elas, tem um parâmetro mental e espiritual, é atemporal e necessário ao ritmo da própria vida. É na arte, que muitas destas culturas, desenvolvem os seus símbolos religiosos, seus cânones comportamentais, da vida diária e não há sentido para eles usarem a arte como negação da harmonia, pois a arte, a filosofia e a religião dançam a mesma música na sua natureza, regidas pelas forças universais. Desta forma, torna-se patético, querer impor padrões de conceitos de “arte contemporânea ocidental”, a muitas culturas antigas do mundo.



O que está acontecendo na arte do momento contemporâneo, é que a liberdade ficou comprometida, o padrão imposto pelo sistema mutante globalizado, reduziu a individualidade do criador, ele não expressa a sua imaginação pessoal, torna-se um plagiador constante do ambiente, dos variados tipos de atos e formas, indevidamente considerados estéticos. Ele age como se não necessitasse do imaginário da mente, ele atua no ambiente, sem intenção de construir signos, ou seja de manipular a matéria para gerar formas atraentes. Apenas age, como se estivesse no puro realismo do viver cotidiano, sem ser praticamente notado, e logicamente sem estimular conceitos, o que é uma utopia filosófica para os seus criadores, que a chamam de “conceitual”. Por exemplo: ficar diante de pessoas e cortar pedaços do próprio cabelo, urinar no chão, rasgar a própria roupa, ficar despido em publico, fumar um cigarro usado, defecar numa bandeja, comer excrementos, cortar a barriga com uma lamina, vomitar, etc. todos são atos óbvios da vida humana, pode ou não despertar interesse do observador (publico). Estes atos, são considerados pelos artistas conceituais performistas, como novas expressões estéticas, mas na verdade não altera a vida do homem comum, o máximo que pode acontecer é alguém chamar a polícia ou iniciar um processo jurídico, quando se sentir molestado pelo ato destes ditos artistas. Torna-se uma masturbação, pois não existe o outro, ele se contorce em busca de aceitação, mas na maioria das vezes, o público não o nota.




Na “arte contemporânea”, a forma está sendo desconectada do conteúdo, o observador se perde na leitura da obra, e cria idéias desconexas, perde o interesse de analise, e não se formam as mensagens para serem absorvidas pelo raciocínio, não há emoção, pois ele não se transporta para o sonho, o que é normal com a imagem estética, tanto na pintura, na escultura, na dança, no teatro e na poesia, quando a imaginação do público reage, dialogando com sua própria mente; e mais ainda, nesta arte também existe, uma agressão a naturalidade comportamental, afastando o indivíduos da possível relação com o pensamento do autor. A “arte contemporânea”, tida como estilo novo de vida, jamais conseguirá transmitir inteiramente conteúdos, pois em sua maioria, são signos incompletos, quando têm conteúdo (significados), lhes falta forma (significantes), e quando tem forma lhes falta conteúdo, e quando não possui sinais, o publico vai embora e a esquece. Nos últimos anos, a ditadura de expressão chamada “Arte contemporânea”, afetou uma grande parte dos jovens, pois ela cria um canal de fuga irreal, uma referência de auto-determinação que parece segura, que entorpece a cada ano os adolescentes, como um “ópio substituto das drogas usuais”, usadas na tentativa de encontrar uma identidade intelectual. A arte atual (dito conceito imaterial), como modelo psico-social de formação humana, já está sendo usada em várias escolas e universidades, não como um estilo de expressão, algo de livre escolha, mas como uma seita avassaladora da condução do comportamento dos jovens, causando a alienação da consciência. Por outro lado, o gosto pessoal poderá desaparecer, por longo período, e existirão gerações de robotização comportamental, que virão impiedosamente, e apesar de tudo, em grande parte, não é culpa dos movimentos de arte e dos impulsos a novas tendências, mas de uma profunda perda de auto-confiança que já permeia os indivíduos no século 21.

Não se sabe, se vale à pena rever a história, para encontrarmos onde começou esta farta idiotice estética, pois são aproximadamente 50 anos de apelos desesperados pela mudança, de atitude artística, como se isto fosse a salvação das almas desorientadas. Marcel Duchamp, um dia, fez o seu protesto, nem mesmo considerando obra prima, e que apenas, em vez de o colocar na Rua, o colocou numa galeria de arte, em um nicho de força intelectual, pois se o tivesse feito em praça pública, teria sido esquecido para sempre. Sobre a força do objeto tornado símbolo, o próprio Duchamp afirmou, depois do fato consumado: “I threw the urinal in their face and now they come and admire it for its beauty”, “Eu enfiei o urinol na cara deles e agora eles vêm e o admiram por sua beleza”. E Já perto do final da vida, ele declarou: “não tenho muita certeza se o conceito de readymade não foi a única idéia realmente importante saída de minha obra”. A questão é que, no momento do pós-guerra, na recessão social americana, e na busca por soluções racionais da vida na época, o fato foi consumido e ficou eternizado. Aí é que mora o conflito: seria tão fácil se eternizar, em um país sem mídia e sem recursos políticos poderosos? Claro que, o tipo da catedral é que faz o santo ficar conhecido e forte. Ferreira Gullar em entrevista ao Jornal de Brasília (30/07/1993), explica: “Quando Duchamp enviou um urinol a um salão estava realizando um gesto de alto inconformismo e denunciando uma série de imposições que envolviam a arte naquele momento. O urinol não é obra de arte. Quando ele fez isto o seu gesto era rebeldia, mas hoje seria puro conformismo. As instituições já assimilaram este gesto. Esta atitude de denúncia e de arte sem linguagem já se exauriu”.


No Brasil é muito fácil se ver os efeitos desta avalanche de expressões conflitantes, que até nem deveriam ser chamadas de arte, pois, ela não ativa a emoção do publico. Procede-se quando a mensagem do autor se evapora por não haver estimulação da percepção dos indivíduos, o objeto criado se confunde com todos do ambiente diário, e por final, é despercebido e esquecido. E se não fosse a arte da fotografia e da gravação de imagens, dela, nada sobraria. A fonte de Duchamp tornou-se dogma no Brasil, pois é um modelo para não se usar a sensibilidade e o intelecto, apenas venerar e imitar, “algo”. Acontecem fatos incríveis com estas produções conceituais, como neste exemplo: um mendigo ao passar em frente a uma galeria de arte contemporânea, se deparou com uma velha mala na porta, e como ele não tinha mais que uma sacola de plástico, sentiu-se feliz com o achado, levou-a na mão. Mas logo escutou – pega o ladrão! Então, ele a largou e saiu correndo, e todos na rua cercaram a velha mala. Logo após, passaram os lixeiros, e a colocaram no caminhão de lixo. O autor, gritou da janela: – a mala é minha! Mas, de nada adiantou, a obra se foi. Era apenas um objeto sem diferença no cotidiano ambiental, e como estava estragado, teve o seu fim, assim como o conceito do autor. Na verdade, nada aconteceu, pois não havia Arte.





Atualmente, existe uma insistência infernal para se apagar o nome “artes plásticas” da expressão artística no Brasil, por causa das aventuras estéticas contemporâneas no mundo. Mas não é um problema, em certos casos, pode ser uma solução. Pois, as artes plásticas nunca irão se acabar, pois quem as produz sabe o que faz. Os tratados atuais de expressão tendem a intitular as artes plásticas, de apenas, “artes visuais”, mas isto já é obvio, e não altera nada, só que, ser visual é um requisito verdadeiro e já o era, desde a sua primeira criação, assim como na fotografia, no design, na arquitetura, no teatro, no cinema, na poesia, etc. A arte plástica será sempre uma expressão independente, pois não pertence aos tipos de expressão que se apresentam na “arte contemporânea”, que se afinam com: o teatro de rua, o circo, o cinema, a televisão, a ambientação, o vídeo-clip de roque, o auto-flagelo em público, matar animais em publico, a fotografia, a pornografia, o ritual de sadismo, a oratória política, etc. e estas não são ações das “artes plásticas”, daí soluciona-se o problema.



O que fica claro, é que as aventuras das Bienais (partindo de Veneza em direção a São Paulo) transformaram a expressão semântica, “artes visuais” numa nomenclatura oficial, para vários tipos de criações artísticas, incluindo até as artes plásticas, principalmente aqui no Brasil. O que se nota, é que o brasileiro se apegou com carinho, às ditaduras, é omisso e passivo por natureza, engole regras sem experimentar antes, e ainda, só chora quando o leite já foi derramado. As instituições públicas impregnadas de seguidores desta “nova seita”, criaram um canal aberto para estes aventureiros, e estão regulamentando um novo nome para uma profissão milenar (Artista Plástico). Só que, se formalizam uma institucionalização de maneira imposta, para um nome de uma profissão e sua atividade conseqüente, e assim se age contra a liberdade de expressão, ferindo a “Declaração Universal dos Direitos Humanos”. Fica aqui um alerta, para os seguidores da “nova seita da expressão artística”, da moda atual: quando se institucionaliza, uma profissão aleatoriamente, sem uma permissão legal da parte interessada, de forma incoerente com a realidade, corre-se o risco de se tornar um abuso aos direitos de liberdade, e uma tendência a se tornar um ato público controverso e até criminoso. Num futuro próximo, quando chegarem novas ordens políticas, alguém poderá ser responsabilizado por estas aventuras, em favor da escravidão da sensibilidade pública.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O ASSASSINATO COMO ARTE



A vida flui, é Arte, nada mais que Arte. Quando se necessita de Arte, pensa-se na vida, se alguém mata a vida, também mata a Arte. Quando um artista resolve assassinar um ser vivo em nome da arte, este artista, está fora do contexto da dignidade humana. Mas, a busca por predadores, estimula os artistas contemporâneos, eles não o conhecem, na verdade, mal sabem que estes estão entranhados nas suas almas, como espíritos das trevas, em busca de uma saída da escuridão, para se expressar. Não sabem falar, não sabem argumentar, estão sedentos por sangue, não importa de onde. São demônios que manipulam a mente dos idiotas nos rebanhos perdidos, não conseguem criar, apenas, imitar.

Onde quer que esteja a moda, ele ali está, chupando o sangue de quem criou a novidade, algo diferente. A arte dos signos roubados, não é duradoura, tenta manipular os inconscientes na multidão, tenta convencer os idiotas do século 21, em que, a arte está nas obras desmaterializadas, desconstruidas, ou na verdade: inexistentes.

O assassino do pobre e inocente cão, manchou a função de galeria de arte, fez do seu recinto um matadouro, e até excitou os vampiros sanguinários da arte-conceito, plagiadores, terríveis, sugadores de idéias, demônios aestéticos. Estes ditos artistas, muitas vezes, mal deixaram de urinar nas fraldas, descobriram a “masturbação”, e pensam que encontraram o caminho da criação artística.

Que Deus os salve, e salve também a mente de quem realmente gosta de arte. E este espetáculo, ficará por conta de uma platéia, que aplaude e zomba, grita e cala, pois só a Nero eles sabem responder.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

A DESTRUIÇÃO DE UM PATRIMONIO: A ESCOLA DE BELAS ARTES DE PERNAMBUCO


Em 1888, o arquiteto Herculano Ramos já havia tentado fundar em Recife uma Escola de Belas Artes, porém não conseguiu alcançar os objetivos devido a falta de elementos persuasivos junto ao Império. O pintor Telles Júnior sonhava em criar uma Escola de Belas Artes no Recife, com o ensino similar ao da Escola Nacional de Belas Artes. Seus ex-alunos Mário Nunes e Álvaro Amorim, juntamente com Balthazar da Câmara decidem criar um atelier de pintura, mas não abandonam a idéia do mestre. Na década de vinte, o escultor Bibiano Silva, o arquiteto Jayme de Oliveria e o pintor Balthazar da Câmara, insistiam na idéia de Telles Júnior, de criar uma Instituição Educativa voltada para as Artes em Recife, estes visualizando as possibilidades legais que surgiam com a “Revolução de 1930” e as aberturas culturais que já ocorriam por volta de “1922” e as novas propostas educacionais que estavam a acontecer no país, procuraram os pintores Mário Nunes e Álvaro Amorim, para discutirem a criação de uma Escola de Belas Artes em Pernambuco.

Tornou-se uma constante as reuniões no atelier de Mário Nunes para se discutir a idéia revolucionária para as artes em Recife. Posteriormente já participam das reuniões, os pintores Murillo La Greca e Heinrich Moser, o professor João Alfredo, os bacharéis em direito Barreto Campelo e Luiz Cedro, conhecedores dos procedimentos legais na estrutura educacional. Em 1931 já lia-se nas colunas do jornalista Mário Melo, citações de apoio à importante Escola, colocando-a como um marco histórico cultural a ser concretizado por artistas e professores conceituados de Recife.

O Decreto-lei n° 20.351, de 31 de agosto de 1931, cria a Caixa de Subvenção para auxílio ao ensino técnico, abrindo caminhos para a melhoria da educação no país, deixando assim um maior ânimo para a oficialização do sonhado projeto da Escola. Sem perder tempo e mantendo a constância nos objetivos, no dia 29 de março de 1932, no Atelier de Mário Nunes, situado no segundo andar da Rua Joaquim Távora, 105, em Recife, reuniram-se os artistas e professores, Bibiano Silva, Álvaro Amorim, Balthazar da Câmara, Murillo La Greca, Henrique Elliot, Emílio Franzoni, Heinrich Moser, Mário Nunes, Luiz Matheus, Jayme de Oliveira e Georges Munier, para realizar a assembléia de Fundação da Escola de Belas Artes, elegendo-se como seu primeiro diretor, o escultor Bibiano Silva. Ficando decidido que a referida escola deveria seguir inicialmente os parâmetros da Escola Nacional de Belas Artes. Para que se mantivesse a continuidade no processo de oficialização foi criado um grupo que se chamou de “Comitê Pró-Escola de Belas Artes de Pernambuco”.

No dia 01 de junho daquele ano, conseguiu-se realizar um contrato de aluguel da casa conhecida como “Solar dos Amorim” na Rua Benfica, 150, no Bairro da Madalena, em nome de Bibiano Silva, Murillo La Greca, Luiz Matheus Ferreira e Jayme de Oliveira. Inicia-se então a montagem da Escola com seus espaços físicos, busca de doações de moveis e objetos didáticos, poderíamos citar também, os bustos de gesso emprestados pela “Loja Maçônica Conciliação”. No dia 15 de julho, foi oficializado publicamente a fundação da Escola de Belas Artes de Pernambuco. Segundo o Jornal Pequeno do dia 22 de agosto de 1932.


Antes: a Escola de Belas Artes. Depois: o Centro de Artes e Comunicação












Todo o sacrifício, foi em vão, de nada adiantou tanta luta e desejo de melhorar o nível cultural do Estado, pois esta Escola foi posteriormente fechada. O fechamento do prédio da Escola de Belas Artes de Pernambuco, e a transferência dos cursos para o Centro de Artes e Comunicação por volta de 1978, gerou desentendimentos, onde vários alunos e professores protestaram contra a instalação construída no Centro de Artes e Comunicação, para as artes plásticas, pois num espaço que ocupava quase 60% na antiga Escola passaria então a apenas 10%, neste Centro. Como resultado dos protestos e reclamações, ficou decidido a criação, do “Espaço-Atelier Benfica” em 1979, sendo inaugurado em 1980 pelos professores: Laerti Baldini, Fernando Lúcio, Aurora de Lima e Suely Muniz, tendo como coordenador o professor Isidro Queralt Prat.

Na Escola de Belas Artes: havia muitos cavaletes. No CAC: os cavaletes foram jogados no lixo.










Por outro lado, a desativação do Bacharelado em Belas Artes, também deixou uma insatisfação muito grande, pois não foi reativado até hoje. Ao contrário do que haviam projetado os criadores da Escola de Belas Artes de Pernambuco, os Cursos que substituíram os da antiga Escola foram, a Licenciatura em Desenho e Plástica e a Licenciatura em Artes Plásticas, cursos que foram idealizados pela ditadura militar do Brasil, por indivíduos que se julgavam profundos conhecedores do Ensino da Arte, eram elementos conduzidos por idéias reacionárias na Educação do País.


Na escola de Belas Artes: havia gosto pelo estudo. No CAC: voltaram a idade das cavernas.











A destruição, do grande sonho dos mestres da arte de Pernambuco, não foi um ato apenas, conseqüente de mudanças sociais e políticas do país, foi um ato publicamente criminoso, de falta de responsabilidade, impulsionado por tendências, repugnantes, influenciadas por ideologias estéticas sem base sólida, que na época já prenunciava a decadência do ensino das artes no país. O reflexo dos plagiadores de modelos americanos e vários outros tipos, impostos na educação brasileira, por preguiça de se desenvolver métodos ideais para a estrutura intelectual brasileira, trouxe a conseqüência que já está sendo vista, nas próprias Universidades do país, e em nosso caso, nos cursos dirigidos para as Artes. Após a abertura política no país, também foi escancarada a porta das Instituições Educacionais, para deixar entrar, padrões que não foram experimentados no Brasil. Atualmente, o Ensino da Arte nas Universidades, abre espaço para qualquer tipo de ideologias, sem princípios didáticos maduros. Muitas instituições brasileiras de ensino, aceitam por uma determinada ética sombria, professores sem formação específica para as artes, que chegam até, a levar em consideração como valores de conteúdos didáticos, os movimentos partidários da arte e as tendências aleatórias da moda artística mundial, padrões de bienais, festivais de vanguarda, etc. Desprezando totalmente, a verdadeira missão do professor de arte, que é: “ensinar técnicas e métodos de desenvolvimento artístico, desenvolver a capacidade criativa do aluno e estimular a sua personalidade artística, ajudando-o na evolução de sua própria identidade intelectual”.



Na Escola de Belas Artes: O trabalho de pesquisa artística era constante, em escultura, pintura, desenho, gravura, etc.



No CAC: A metodologias foram se dispersando e em algumas vezes estimularam apenas o artesanato.





No CAC: o conteúdo e a forma da arte, perderam os valores, viraram ideias instantâneas ou plagios de outros artistas, por não haver mais prática e desenvolvimento da criatividade.




Em outubro de 1988, artistas e professores da UFPE, da Associação dos Artistas Plásticos Profissionais de Pernambuco, do Sindicato dos Artistas Plásticos Profissionais de Pernambuco, do Grupo de Artistas Plásticos Pesquisadores de Pernambuco (GAPP), de várias entidades Culturais e pessoas ligadas às artes em geral, realizam um movimento para reabrir o antigo edifício da Escola de Belas Artes de Pernambuco, mas os órgãos oficiais não foram sensíveis à importante solicitação, pois ainda havia “devotos da ditadura” dentro da Universidade Federal de Pernambuco. Claro que, a história da Escola de Belas Artes de Pernambuco apresenta tantos fatos importantes, que até nem caberia neste pequeno relato, mas vale à pena conhecer a verdadeira história da Arte de Pernambuco, que muitas vezes foi camuflada e nunca foi mostrada.


Movimento realizado em 1988 em defesa da reabertura da Escola de Belas Artes de Pernambuco.




Esta casa, na rua Benfica, no Bairro da Madalena, tombada pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, guarda no silêncio de suas paredes, um mistério sem explicação, sobre as manobras na Administração da Educação brasileira, e que ficarão por muito tempo sem serem desvendadas.


quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O PENSAMENTO DE PICASSO


"É preciso ter muito cuidado com o que se faz, pois é justamente quando nos julgamos menos livres que estamos a ser mais livres."


"Uma idéia é um ponto de partida e nada mais. Logo que se começa a elaborá-la, é transformada pelo pensamento."


"Suprimir os obstáculos não é dar liberdade, mas sim permitir o desregramento, que conduz à desestruturação, à monotonia, ao nada."


"Não devemos ter medo de inventar seja o que for. Tudo o que existe em nós existe também na natureza, pois fazemos parte dela."


"Um quadro bom no meio de quadros maus acaba por se transformar num mau quadro. E um quadro mau no meio de quadros bons acaba por se tornar um bom quadro. "


"Se apenas houvesse uma única verdade, não poderiam pintar-se cem telas sobre o mesmo tema."


"Não há, na arte, nem passado nem futuro. A arte que não estiver no presente jamais será arte."


"A arte é a mentira que nos permite conhecer a verdade."


"Só um sentido de invenção e uma necessidade intensa de criar levam o homem a revoltar-se, a descobrir e a descobrir-se com lucidez."

ARTE CONTEMPORÂNEA: REPETIÇÃO E MONOPÓLIO ESTÉTICO

O que nos levou a escrever este artigo sobre as repetições na arte das últimas décadas, foi a observação constante nas produções artísticas visuais nas mostras e bienais internacionais de diversos paises, da América, Europa e principalmente do Brasil. Chamamos de repetição a constante “clonagem” de conteúdos, formas e gestos artísticos nestes últimos 20 anos na Arte Contemporânea. Compreendemos que a ausência ou diminuição do individualismo na criação artística (atualmente), contribui para a assimilação e condicionamento de códigos coletivos em grande escala, o que representa uma utopia para o processo de “criatividade”. Considerando que a individualidade é um momento de libertação, um estado de comportamento em que o indivíduo expressa a sua legítima identidade em relação ao outro. Observamos que no ato da comunicação de gestos e pensamentos, acontece explicitamente o“estado individual”, como indicativo de originalidade comportamental nas atitudes verbais e corporais.

Podemos salientar que por individualidade entende-se uma ação pessoal que identifica a criatura, como por exemplo, na maneira de falar, nas expressões corporais, na forma de caminhar, na forma de escrever, etc. Lawrence A. Pervin e Michael Lewis, definiram como característica da personalidade o conjunto de propriedades estruturais e dinâmicas do indivíduo que organizam a experiência e modelam as atitudes e reações do indivíduo no ambiente vital. Para Carl Jung (1875-1961), a personalidade possui aspectos particulares da alma e o modo como ela funciona no mundo. O desenvolvimento da personalidade depende de uma distinção de valores coletivos, que são personificados pela pessoa e a ela são incorporados. Uma mudança de ambiente poderá alterar a personalidade e deixar o caráter bem definido e diferente do anterior. O caráter social atua diretamente na personalidade do indivíduo e ele perde a individualidade tornando-se entidade coletiva.

As evidências cientificas nos mostram que a individualidade nem sempre se expressa totalmente na atitude humana, muitas vezes apresenta-se de forma camuflada. A autenticidade da “pessoa” pode se quebrar ao se abrir janelas para um condicionamento de códigos comportamentais externos. Jung, também nos diz que o inconsciente é parte do instinto, e o maior perigo que ele apresenta é a tendência a ser sugestionável e quanto mais inconsciente mais sugestionável será o indivíduo. Sendo assim, qualquer atitude comportamental do indivíduo que denuncie uma imitação ou repetição de atitude e gestos, pode ter a sua causa na ausência de consciência. Por outro lado, B. F. Skinner (1904-1990), explica que o processo de repetição comportamental ou imitação, pode ser comparado ao instinto de rebanho, uma coisa própria dos seres vivos, pois a luta pela sobrevivência conduz ao comportamento repetitivo. O “medo” estimula os seres vivos a uma busca de proteção pessoal e quando existe uma maior quantidade de indivíduos, se induz a sensação de segurança vital e aumenta espontaneamente o comportamento “imitativo”. Imagens: 01 “Taça, jornal e dado”, Pablo Picasso, Aviñon – 1914; 02 “Calças sobre bastidor” , Antoni Tapies, Barcelona – 1971

Os indivíduos adotam padrões comportamentais e os mantêm como guia na sobrevivência, até o momento em que não surge um outro padrão, que lhe transmita maior segurança, pois é fundamental para os indivíduos inseguros a existência de pontos de referencia. Este fato nos demonstra que cada indivíduo na sua evolução pessoal, poderá estar constantemente buscando mecanismos que lhe deixem mais seguros. O medo do desconhecido é um motivo para a camuflagem da individualidade, assim como certos animais são capazes de mudar a cor e a textura corporal para não serem percebidos pelos predadores, as pessoas que não conseguem expressar a sua individualidade, procuram estar sempre camufladas por padrões comportamentais de outras pessoas ou da coletividade, pois isto, lhe da a sensação de ter uma identidade estável.

Skinner, demonstra que o comportamento condicionado do homem representa uma perda de liberdade, e que existe um controle de comportamento e um reforço que estimulam a continuidade do processo. Explica que as boas notas, as medalhas, os prêmios, as críticas e elogios, são reforçadores da conduta social e cultural, característica da utilização de modelos monopolizadores. O ambiente social e cultural também são controladores, criam modos de vida e comportamento social, gerando costumes e maneiras, sistema de valores e idéias que funcionam como uma cadeia de comunicação que se reforça através de muitos contingentes mantidos pelo grupo, podendo se transformar em normas resistentes ao tempo e ao espaço.

Na Sociedade Contemporânea a maioria das pessoas não notam que existem vários conflitos que são estimulados por “semióticas” diversas, através dos meios de comunicação e pela manipulação sistemática do poder, e estes chegam até a causar distúrbios sociais e políticos nos povos. Na arte hoje, o processo de manipulação dos modelos estéticos, pode ser decorrente de interesses de galerias de artes, de cotações das obras de artistas famosos, de influências políticas de grupos de artistas, de prêmios oferecidos para se manter um monopólio estético, de museus que mantêm as suas coleções como referências de boa arte, patrocinadores partidários, lavagem de dólares, etc. (é o que acontece nas Bienais). Estes condicionantes diminuem a possibilidade de libertação da originalidade artística e reduz as possibilidades de se criar novas formas de manifestação artística. Muitos elementos de manipulação estética são hoje em dia confundidos e mantêm inversões de valores, pois muitos situam a deficiência da originalidade nas técnicas artísticas tradicionais e não na repetição constante dos padrões monopolizadores. Imagens: 03 “Sem título”, Joseph Cornell, EUA – 1954; 04 “Um hóspede do Hotel Roca”, M.Okô-Monika Rühle -1996


A Arte Contemporânea persiste no condicionamento estético, seguindo a busca por um controle de modelos artísticos e um padrão que talvez seja bem mais manipulador da individualidade artística que as influencias acadêmicas do passado, pelo espaço físico e mental que ocupa atualmente no mundo. Em outras épocas as pequenas sociedades com pouco mais de 1500 habitantes eram condicionadas por modelos de uma Escola local, hoje existem milhões de simpatizantes da arte em cada grupo social, que se orientam por padrões sugeridos por “ditadores de uma estética intitulada contemporânea”, por diversas ramificações acima citadas, por conceitos e formas de julgamento institucionalizado para manter as correntes criadas pelos grupos dominantes. É bem possível que muitos artistas tenham desistido de desenvolver seus índices estéticos individuais e espontâneos, para seguir o “rebanho”, como no selvagem instinto de sobrevivência, sem tomar consciência de que sua criatividade e originalidade estão sendo manipuladas. A individualidade artística, é reflexo da identidade pessoal, mas quando o grau de interferências externas ultrapassa o espírito do artista, podemos considerar que a sua criação possui ampla influencia de estímulos impessoais, havendo variados efeitos sobre a originalidade na sua expressão. No momento Contemporâneo a imitação artística não se processa diretamente da natureza ambiental como faziam os mestres do passado, os padrões são imitados e copiados, mas não como antes, agora existe um controle reforçador que leva os artistas a se afiliarem a partidos estéticos monopolizadores que ordenam formas e modelos para que os iniciantes da arte se reforcem e dêem continuidade a um rebanho padronizado. A percepção artística contemporânea perdeu a originalidade de valores estéticos, não por falta de capacidade mas pela falta de consciência da sua própria identidade (Artista-Autor). Hoje podemos ver conteúdos estéticos substituídos na maioria das vezes por expressões condicionadas, repetidas como cabeças de ovelhas num rebanho e longe de possuir um teor de originalidade. Imagens: 05 “Fragile”, Paul Pouvreau – 1997; 06 “Verticales” , Andrés Monteagudo - 1998


Roman Jakobson (1896-1982), diz que todas as artes possuem um sistema de convenções artísticas, que servem de base às suas elaborações. As “convenções” são influentes e talvez obrigatórias para os artistas e para a sociedade, e muitas vezes impostas por um padrão dominante no contexto cultural e na determinada época. A originalidade é muitas vezes limitada pelo código artístico dominante, que resultam na criação de regras para o sistema contemporâneo em função de um modelo inovador.

Hoje, a “Arte Contemporânea”, não é considerada por muitos uma “produção do momento atual” e sim uma tendência (moda) que se intitula desta forma, talvez para fugir dos “ismos” anteriores, porém, leva automaticamente a um conflito semântico, gerando uma compreensão dúbia do termo: “Contemporâneo”, sendo assim, neste caso poderia significar tudo que se produz entre os artistas vivos, nos dias de hoje. A “Arte Moderna”, “Atual”, “de Vanguarda” ou “Contemporânea” será sempre referente às ultimas criações partidárias estéticas. Em nosso caso, não foi de nosso interesse discutir estas participações partidárias, mas apenas avaliar os processos resultantes destes movimentos monopolizadores e seus efeitos na criação artística atual.

Os modelos iconográficos dos romanos evidenciaram sempre os arquétipos gregos, os renascentistas nunca puderam negar a grande identificação com os moldes romanos e ninguém pode afirmar que o estilo grego-romano não dominou a Europa e mantém a sua sombra até os dias atuais. As configurações artísticas das culturas passadas são espelhos dos códigos deixados por seus invasores culturais ao passo das suas existências. O poder e a influencia na Arte ocorre igualmente através dos tempos, o uso da força ou o uso de mecanismos psicológicos de poder, executam processos de monopolização na historia das culturas até os dias de hoje, porém a ordem dos fatores pode mudar variadas vezes, enquanto, antes se temia as influências das grandes academias, hoje se teme os indicadores estéticos que procedem das “grandes bienais, dos salões de arte e críticos tendenciosos bem pagos, que possuem acesso aos meios de comunicação de massas”. Como citamos anteriormente, a insegurança faz o indivíduo buscar o “rebanho”, o pavor ao poder (imperialismo estético das bienais) leva os “inexperientes” à procura de identidade, mas se esta identidade não evoluir com o crescimento pessoal, poderá formar uma carapuça, que iludirá e construirá uma falsa personalidade artística. Na Arte Contemporânea já se observam efeitos diversos dessas forças monopolizadoras de padrões estéticos, elas podem estar dentro e fora das instituições, arquitetando reforços psicológicos e políticos para não cair dos seus pedestais, porém, o que a historia sempre provou: é que os “Impérios não são eternos”. A criação artística supõe algo original do indivíduo, da sensibilidade do “autor”, mas se este autor passa a ser apenas intérprete de padrões e conteúdos que ele mesmo não desenvolveu, ele pode cair no “Poço da Inconsciência” e nunca tomar conhecimento de que está sendo um mero “títere da hipocrisia cultural”.

Artigo escrito por Fernando Lúcio, Recife, 25/08/2008

A CRISE DA ARTE








Ao receber o titulo de Doutor Honoris Causa, que lhe foi concedido pela Universidade Autônoma de Nuevo Leon, Monterrey - México, um dos grandes mestres da Arte Moderna Mundial, Fernando Botero, fez um pequeno discurso sobre a crise da Arte, dizendo: “A Arte é uma renovação permanente”, questionando sobre o destino da arte em um século de sufoco causado pelas novas tecnologias e o esquecimento. Lamenta Botero, que os novos artistas, sejam incapazes de observar o passado, e até se sentem ofendidos em perceber o trabalho dos grandes mestres, que deram vida, a “grande arte”, que a historia da arte a tenha convertido em um mero desenvolvimento acadêmico e não em um “objeto sério de estudos”. Afirma: “Os artistas devem criar uma realidade diferente, e responsabilidade com relação ao seu próprio trabalho, com a história, com o momento e com a estética”.

Explica que, a arte se encontra parada em uma etapa de aridez criativa, somada ao desenvolvimento científico, dos últimos 200 anos. E acrescenta que, de nada adianta a evolução tecnológica, já que esta não tem influenciado na criação artística, e agora vive uma das épocas mais abandonadas enquanto produção e criação estética. “Hoje a pintura e a escultura, passam por uma das piores crises de sua história. A desintegração da arte mundial, devido ao excesso de intelectualismo e uma verdadeira confusão conceitual, produziu, a época mais pobre e estéril esteticamente de toda a historia da arte”.

Botero, pede aos artistas, que tomem consciência da urgência de regressar as suas raízes e a riqueza cultural dos povos. Que é só, através da realidade social, que eles serão capazes de produzir obras, que se convertam em uma “Arte Perdurável”. Continua: “A arte atual está mais interessada em produzir um choque, que em dar prazer ao espectador”. “A arte evoluirá, desde que exista um respeito ao passado, pois esse respeito, existiu sempre, mesmo com os pintores de vanguarda. Picasso se interessava em Cézanne e também estava interessado em Delacroix”. “Essa indiferença com o passado, deixa a arte pobre, e a arte tem que ser o resultado da cultura e essa cultura, é o conhecimento da historia da arte”, conclui.

Monterrey - México, 31 de janeiro de 2008