quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O PENSAMENTO DE PICASSO


"É preciso ter muito cuidado com o que se faz, pois é justamente quando nos julgamos menos livres que estamos a ser mais livres."


"Uma idéia é um ponto de partida e nada mais. Logo que se começa a elaborá-la, é transformada pelo pensamento."


"Suprimir os obstáculos não é dar liberdade, mas sim permitir o desregramento, que conduz à desestruturação, à monotonia, ao nada."


"Não devemos ter medo de inventar seja o que for. Tudo o que existe em nós existe também na natureza, pois fazemos parte dela."


"Um quadro bom no meio de quadros maus acaba por se transformar num mau quadro. E um quadro mau no meio de quadros bons acaba por se tornar um bom quadro. "


"Se apenas houvesse uma única verdade, não poderiam pintar-se cem telas sobre o mesmo tema."


"Não há, na arte, nem passado nem futuro. A arte que não estiver no presente jamais será arte."


"A arte é a mentira que nos permite conhecer a verdade."


"Só um sentido de invenção e uma necessidade intensa de criar levam o homem a revoltar-se, a descobrir e a descobrir-se com lucidez."

ARTE CONTEMPORÂNEA: REPETIÇÃO E MONOPÓLIO ESTÉTICO

O que nos levou a escrever este artigo sobre as repetições na arte das últimas décadas, foi a observação constante nas produções artísticas visuais nas mostras e bienais internacionais de diversos paises, da América, Europa e principalmente do Brasil. Chamamos de repetição a constante “clonagem” de conteúdos, formas e gestos artísticos nestes últimos 20 anos na Arte Contemporânea. Compreendemos que a ausência ou diminuição do individualismo na criação artística (atualmente), contribui para a assimilação e condicionamento de códigos coletivos em grande escala, o que representa uma utopia para o processo de “criatividade”. Considerando que a individualidade é um momento de libertação, um estado de comportamento em que o indivíduo expressa a sua legítima identidade em relação ao outro. Observamos que no ato da comunicação de gestos e pensamentos, acontece explicitamente o“estado individual”, como indicativo de originalidade comportamental nas atitudes verbais e corporais.

Podemos salientar que por individualidade entende-se uma ação pessoal que identifica a criatura, como por exemplo, na maneira de falar, nas expressões corporais, na forma de caminhar, na forma de escrever, etc. Lawrence A. Pervin e Michael Lewis, definiram como característica da personalidade o conjunto de propriedades estruturais e dinâmicas do indivíduo que organizam a experiência e modelam as atitudes e reações do indivíduo no ambiente vital. Para Carl Jung (1875-1961), a personalidade possui aspectos particulares da alma e o modo como ela funciona no mundo. O desenvolvimento da personalidade depende de uma distinção de valores coletivos, que são personificados pela pessoa e a ela são incorporados. Uma mudança de ambiente poderá alterar a personalidade e deixar o caráter bem definido e diferente do anterior. O caráter social atua diretamente na personalidade do indivíduo e ele perde a individualidade tornando-se entidade coletiva.

As evidências cientificas nos mostram que a individualidade nem sempre se expressa totalmente na atitude humana, muitas vezes apresenta-se de forma camuflada. A autenticidade da “pessoa” pode se quebrar ao se abrir janelas para um condicionamento de códigos comportamentais externos. Jung, também nos diz que o inconsciente é parte do instinto, e o maior perigo que ele apresenta é a tendência a ser sugestionável e quanto mais inconsciente mais sugestionável será o indivíduo. Sendo assim, qualquer atitude comportamental do indivíduo que denuncie uma imitação ou repetição de atitude e gestos, pode ter a sua causa na ausência de consciência. Por outro lado, B. F. Skinner (1904-1990), explica que o processo de repetição comportamental ou imitação, pode ser comparado ao instinto de rebanho, uma coisa própria dos seres vivos, pois a luta pela sobrevivência conduz ao comportamento repetitivo. O “medo” estimula os seres vivos a uma busca de proteção pessoal e quando existe uma maior quantidade de indivíduos, se induz a sensação de segurança vital e aumenta espontaneamente o comportamento “imitativo”. Imagens: 01 “Taça, jornal e dado”, Pablo Picasso, Aviñon – 1914; 02 “Calças sobre bastidor” , Antoni Tapies, Barcelona – 1971

Os indivíduos adotam padrões comportamentais e os mantêm como guia na sobrevivência, até o momento em que não surge um outro padrão, que lhe transmita maior segurança, pois é fundamental para os indivíduos inseguros a existência de pontos de referencia. Este fato nos demonstra que cada indivíduo na sua evolução pessoal, poderá estar constantemente buscando mecanismos que lhe deixem mais seguros. O medo do desconhecido é um motivo para a camuflagem da individualidade, assim como certos animais são capazes de mudar a cor e a textura corporal para não serem percebidos pelos predadores, as pessoas que não conseguem expressar a sua individualidade, procuram estar sempre camufladas por padrões comportamentais de outras pessoas ou da coletividade, pois isto, lhe da a sensação de ter uma identidade estável.

Skinner, demonstra que o comportamento condicionado do homem representa uma perda de liberdade, e que existe um controle de comportamento e um reforço que estimulam a continuidade do processo. Explica que as boas notas, as medalhas, os prêmios, as críticas e elogios, são reforçadores da conduta social e cultural, característica da utilização de modelos monopolizadores. O ambiente social e cultural também são controladores, criam modos de vida e comportamento social, gerando costumes e maneiras, sistema de valores e idéias que funcionam como uma cadeia de comunicação que se reforça através de muitos contingentes mantidos pelo grupo, podendo se transformar em normas resistentes ao tempo e ao espaço.

Na Sociedade Contemporânea a maioria das pessoas não notam que existem vários conflitos que são estimulados por “semióticas” diversas, através dos meios de comunicação e pela manipulação sistemática do poder, e estes chegam até a causar distúrbios sociais e políticos nos povos. Na arte hoje, o processo de manipulação dos modelos estéticos, pode ser decorrente de interesses de galerias de artes, de cotações das obras de artistas famosos, de influências políticas de grupos de artistas, de prêmios oferecidos para se manter um monopólio estético, de museus que mantêm as suas coleções como referências de boa arte, patrocinadores partidários, lavagem de dólares, etc. (é o que acontece nas Bienais). Estes condicionantes diminuem a possibilidade de libertação da originalidade artística e reduz as possibilidades de se criar novas formas de manifestação artística. Muitos elementos de manipulação estética são hoje em dia confundidos e mantêm inversões de valores, pois muitos situam a deficiência da originalidade nas técnicas artísticas tradicionais e não na repetição constante dos padrões monopolizadores. Imagens: 03 “Sem título”, Joseph Cornell, EUA – 1954; 04 “Um hóspede do Hotel Roca”, M.Okô-Monika Rühle -1996


A Arte Contemporânea persiste no condicionamento estético, seguindo a busca por um controle de modelos artísticos e um padrão que talvez seja bem mais manipulador da individualidade artística que as influencias acadêmicas do passado, pelo espaço físico e mental que ocupa atualmente no mundo. Em outras épocas as pequenas sociedades com pouco mais de 1500 habitantes eram condicionadas por modelos de uma Escola local, hoje existem milhões de simpatizantes da arte em cada grupo social, que se orientam por padrões sugeridos por “ditadores de uma estética intitulada contemporânea”, por diversas ramificações acima citadas, por conceitos e formas de julgamento institucionalizado para manter as correntes criadas pelos grupos dominantes. É bem possível que muitos artistas tenham desistido de desenvolver seus índices estéticos individuais e espontâneos, para seguir o “rebanho”, como no selvagem instinto de sobrevivência, sem tomar consciência de que sua criatividade e originalidade estão sendo manipuladas. A individualidade artística, é reflexo da identidade pessoal, mas quando o grau de interferências externas ultrapassa o espírito do artista, podemos considerar que a sua criação possui ampla influencia de estímulos impessoais, havendo variados efeitos sobre a originalidade na sua expressão. No momento Contemporâneo a imitação artística não se processa diretamente da natureza ambiental como faziam os mestres do passado, os padrões são imitados e copiados, mas não como antes, agora existe um controle reforçador que leva os artistas a se afiliarem a partidos estéticos monopolizadores que ordenam formas e modelos para que os iniciantes da arte se reforcem e dêem continuidade a um rebanho padronizado. A percepção artística contemporânea perdeu a originalidade de valores estéticos, não por falta de capacidade mas pela falta de consciência da sua própria identidade (Artista-Autor). Hoje podemos ver conteúdos estéticos substituídos na maioria das vezes por expressões condicionadas, repetidas como cabeças de ovelhas num rebanho e longe de possuir um teor de originalidade. Imagens: 05 “Fragile”, Paul Pouvreau – 1997; 06 “Verticales” , Andrés Monteagudo - 1998


Roman Jakobson (1896-1982), diz que todas as artes possuem um sistema de convenções artísticas, que servem de base às suas elaborações. As “convenções” são influentes e talvez obrigatórias para os artistas e para a sociedade, e muitas vezes impostas por um padrão dominante no contexto cultural e na determinada época. A originalidade é muitas vezes limitada pelo código artístico dominante, que resultam na criação de regras para o sistema contemporâneo em função de um modelo inovador.

Hoje, a “Arte Contemporânea”, não é considerada por muitos uma “produção do momento atual” e sim uma tendência (moda) que se intitula desta forma, talvez para fugir dos “ismos” anteriores, porém, leva automaticamente a um conflito semântico, gerando uma compreensão dúbia do termo: “Contemporâneo”, sendo assim, neste caso poderia significar tudo que se produz entre os artistas vivos, nos dias de hoje. A “Arte Moderna”, “Atual”, “de Vanguarda” ou “Contemporânea” será sempre referente às ultimas criações partidárias estéticas. Em nosso caso, não foi de nosso interesse discutir estas participações partidárias, mas apenas avaliar os processos resultantes destes movimentos monopolizadores e seus efeitos na criação artística atual.

Os modelos iconográficos dos romanos evidenciaram sempre os arquétipos gregos, os renascentistas nunca puderam negar a grande identificação com os moldes romanos e ninguém pode afirmar que o estilo grego-romano não dominou a Europa e mantém a sua sombra até os dias atuais. As configurações artísticas das culturas passadas são espelhos dos códigos deixados por seus invasores culturais ao passo das suas existências. O poder e a influencia na Arte ocorre igualmente através dos tempos, o uso da força ou o uso de mecanismos psicológicos de poder, executam processos de monopolização na historia das culturas até os dias de hoje, porém a ordem dos fatores pode mudar variadas vezes, enquanto, antes se temia as influências das grandes academias, hoje se teme os indicadores estéticos que procedem das “grandes bienais, dos salões de arte e críticos tendenciosos bem pagos, que possuem acesso aos meios de comunicação de massas”. Como citamos anteriormente, a insegurança faz o indivíduo buscar o “rebanho”, o pavor ao poder (imperialismo estético das bienais) leva os “inexperientes” à procura de identidade, mas se esta identidade não evoluir com o crescimento pessoal, poderá formar uma carapuça, que iludirá e construirá uma falsa personalidade artística. Na Arte Contemporânea já se observam efeitos diversos dessas forças monopolizadoras de padrões estéticos, elas podem estar dentro e fora das instituições, arquitetando reforços psicológicos e políticos para não cair dos seus pedestais, porém, o que a historia sempre provou: é que os “Impérios não são eternos”. A criação artística supõe algo original do indivíduo, da sensibilidade do “autor”, mas se este autor passa a ser apenas intérprete de padrões e conteúdos que ele mesmo não desenvolveu, ele pode cair no “Poço da Inconsciência” e nunca tomar conhecimento de que está sendo um mero “títere da hipocrisia cultural”.

Artigo escrito por Fernando Lúcio, Recife, 25/08/2008

A CRISE DA ARTE








Ao receber o titulo de Doutor Honoris Causa, que lhe foi concedido pela Universidade Autônoma de Nuevo Leon, Monterrey - México, um dos grandes mestres da Arte Moderna Mundial, Fernando Botero, fez um pequeno discurso sobre a crise da Arte, dizendo: “A Arte é uma renovação permanente”, questionando sobre o destino da arte em um século de sufoco causado pelas novas tecnologias e o esquecimento. Lamenta Botero, que os novos artistas, sejam incapazes de observar o passado, e até se sentem ofendidos em perceber o trabalho dos grandes mestres, que deram vida, a “grande arte”, que a historia da arte a tenha convertido em um mero desenvolvimento acadêmico e não em um “objeto sério de estudos”. Afirma: “Os artistas devem criar uma realidade diferente, e responsabilidade com relação ao seu próprio trabalho, com a história, com o momento e com a estética”.

Explica que, a arte se encontra parada em uma etapa de aridez criativa, somada ao desenvolvimento científico, dos últimos 200 anos. E acrescenta que, de nada adianta a evolução tecnológica, já que esta não tem influenciado na criação artística, e agora vive uma das épocas mais abandonadas enquanto produção e criação estética. “Hoje a pintura e a escultura, passam por uma das piores crises de sua história. A desintegração da arte mundial, devido ao excesso de intelectualismo e uma verdadeira confusão conceitual, produziu, a época mais pobre e estéril esteticamente de toda a historia da arte”.

Botero, pede aos artistas, que tomem consciência da urgência de regressar as suas raízes e a riqueza cultural dos povos. Que é só, através da realidade social, que eles serão capazes de produzir obras, que se convertam em uma “Arte Perdurável”. Continua: “A arte atual está mais interessada em produzir um choque, que em dar prazer ao espectador”. “A arte evoluirá, desde que exista um respeito ao passado, pois esse respeito, existiu sempre, mesmo com os pintores de vanguarda. Picasso se interessava em Cézanne e também estava interessado em Delacroix”. “Essa indiferença com o passado, deixa a arte pobre, e a arte tem que ser o resultado da cultura e essa cultura, é o conhecimento da historia da arte”, conclui.

Monterrey - México, 31 de janeiro de 2008