Na história da evolução da humanidade, sempre existiu uma constante convivência com as artes, das mais rudes as mais sofisticadas civilizações, as artes aparecem na vida dos indivíduos. É nas artes plásticas, onde se consegue ter a maior quantidade de informações sobre as mais antigas culturas, tanto no desenho, como na escrita manual, nas gravuras ou nas esculturas, estão as maiores quantidades de informações culturais dos povos. Nas civilizações, egípcia, persa, fenícia, grega, romana, indiana, tibetana, chinesa, coreana, japonesa, africana, asteca, maia, inca e celta ficaram claros os processos artísticos utilizados pelas antigas sociedades humanas.
Todos os povos antigos fizeram “Arte’, por ser algo de necessidade de sua sobrevivência física e intelectual. Como um ato que estabiliza a estrutura social e a identidade cultural dos indivíduos. Em todas as civilizações existiram os autores e os cultivadores da arte, o que mostra, que o processo, “criador, criação e percepção”, sempre foi universal, e atravessa o tempo, e o espaço. Em todas as culturas, são observados modos de elaboração artística, desenvolvidos pelos artistas, gerando estilos, que apresentam aspectos individuais e coletivos. Os aspectos individuais são gerados pela ação do organismo físico-mental dos artistas e os aspectos coletivos são referencias iconográficas que influenciam os artistas através do contato visual ou através de uma afinidade do mesmo, pelo modo de elaboração de outro artista. A história da criação artística não pode negar a disponibilidade da sensibilidade humana a um referencial icônico do meio (necessidade de arte), pois o ser humano é naturalmente um consumidor de imagens. Sigmund Freud, faz uma relação entre o prazer estético e a libido sexual, como um estimulador primitivo da visão estética, demonstra que a sensibilidade estética é intrínseca ao ser humano, algo que nasceu com ele. Independente das idéias psicológicas, o que é notável, é que, o individuo, quando ainda jovem, tem afinidade com determinadas linguagens artísticas encontradas em seu meio, sejam estas sonoras, corporais ou plásticas, revelando uma pré-disposição sensorial, que o leva a formação de uma identidade intelectual.
A evolução estética no individuo, é idêntica em qualquer época e em qualquer civilização, pois se confrontarmos os desenhos infantis, de crianças do Japão, da África, da Austrália ou da França, observaremos que estas expressam os mesmos sinais arquetípicos, e só passam a apresentar as codificações padronizadas, após o amplo contato com o seu meio social. Daí, podermos concordar, que uma criança egípcia entre 3 e 4 anos de idade, nascida há 5 mil anos antes de cristo, desenhava um rosto com as mesmas características arquetípicas, que desenharia uma criança inglesa hoje, 7 mil anos depois. Este fato, demonstra que a mente, em seu estado sutil inicial, é atemporal e universal, apresenta uma disponibilidade orgânica e não reflete tanto “o processo evolucionista”. Por outro lado, se existir interferências externas no seu estado sensível e espontâneo, ela se comportará mais coletivamente, e aí, já se pode ver alguns sinais de padronização grupal, diminuindo o grau de individualidade na sua expressão gráfica.

Nas artes plásticas, os sinais da personalidade do artista, aumentam ou diminuem de acordo com a influencia de códigos coletivos. Atualmente, vemos que uma “prática mutante” coletiva, está impregnando o comportamento dos artistas, e mais intensamente o comportamento dos artistas das artes da “mais recente vanguarda”. Nota-se também, que as obras de arte, principalmente, as ocidentais ficam presas a certos padrões mutantes e monopolizadores, o que queremos dizer, é que: a arte contemporânea é adotada por alguns, como uma arte que sofre mudanças constantes, que se obriga a ser coletiva, que não tem relação com o passado e mais ainda, afasta a personalidade do autor, e segue uma “regra global de expressão”, que está sempre prestes a mudar. Esta arte de hoje, já vista por muitos, como “caçadora de novos conceitos” ou “charadas visuais”, não demonstra percentuais claros da individualidade do criador, é transformada em atos puramente momentâneos, que são geralmente copiados de “tais padrões em moda”, estimulam um comportamento como os das abelhas e das formigas, repetitivos e submissos aos dogmas das colméias e formigueiros ou seja, dos monopólios intelectuais.

E a Beleza? Seria um comportamento ultrapassado, dos gregos e dos romanos? Sim, se apenas fossemos contar o tempo em que foram produzidas, pela evolução dos dogmas e as mutações espontâneas das idéias humanas. Porém, gregos e romanos, sempre foram referencias para o mundo ocidental, os europeus e suas colônias. E o resto? As civilizações orientais? E as nativas, que não sofreram interferências da evolução ocidental em sua base cultural? Desapareceram? Ou os ocidentais sempre quiseram dominar o mundo da arte? A “Beleza” no resto do mundo, nunca foi presa a evolução ocidental (diga-se: a européia e suas colônias), e a grande parte dos registros culturais da pré-história, não foi nem sequer encontrada na Europa. Estes povos não ficaram condicionados aos dogmas estéticos ocidentais. Somente agora, há alguns anos, com a chegada da globalização dos sistemas de comunicação via Internet, é que começamos a ver, as padronizações estéticas chegando ao resto do mundo. Que imensa falta de liberdade, irão ter os povos não ocidentais daqui pra frente!
Na Índia, no Paquistão, na China, na Rússia, na Coréia, e tantos outros paises, os artistas não estão regidos pela paranóia do regime mutante da “Arte Contemporânea”, que impõe a “moda estética”, como norma inseparável da criação de idéias artísticas do momento atual. Estes valores, ainda não contaminaram muitas culturas orientais, porque a arte para elas, tem um parâmetro mental e espiritual, é atemporal e necessário ao ritmo da própria vida. É na arte, que muitas destas culturas, desenvolvem os seus símbolos religiosos, seus cânones comportamentais, da vida diária e não há sentido para eles usarem a arte como negação da harmonia, pois a arte, a filosofia e a religião dançam a mesma música na sua natureza, regidas pelas forças universais. Desta forma, torna-se patético, querer impor padrões de conceitos de “arte contemporânea ocidental”, a muitas culturas antigas do mundo.

O que está acontecendo na arte do momento contemporâneo, é que a liberdade ficou comprometida, o padrão imposto pelo sistema mutante globalizado, reduziu a individualidade do criador, ele não expressa a sua imaginação pessoal, torna-se um plagiador constante do ambiente, dos variados tipos de atos e formas, indevidamente considerados estéticos. Ele age como se não necessitasse do imaginário da mente, ele atua no ambiente, sem intenção de construir signos, ou seja de manipular a matéria para gerar formas atraentes. Apenas age, como se estivesse no puro realismo do viver cotidiano, sem ser praticamente notado, e logicamente sem estimular conceitos, o que é uma utopia filosófica para os seus criadores, que a chamam de “conceitual”. Por exemplo: ficar diante de pessoas e cortar pedaços do próprio cabelo, urinar no chão, rasgar a própria roupa, ficar despido em publico, fumar um cigarro usado, defecar numa bandeja, comer excrementos, cortar a barriga com uma lamina, vomitar, etc. todos são atos óbvios da vida humana, pode ou não despertar interesse do observador (publico). Estes atos, são considerados pelos artistas conceituais performistas, como novas expressões estéticas, mas na verdade não altera a vida do homem comum, o máximo que pode acontecer é alguém chamar a polícia ou iniciar um processo jurídico, quando se sentir molestado pelo ato destes ditos artistas. Torna-se uma masturbação, pois não existe o outro, ele se contorce em busca de aceitação, mas na maioria das vezes, o público não o nota.

Na “arte contemporânea”, a forma está sendo desconectada do conteúdo, o observador se perde na leitura da obra, e cria idéias desconexas, perde o interesse de analise, e não se formam as mensagens para serem absorvidas pelo raciocínio, não há emoção, pois ele não se transporta para o sonho, o que é normal com a imagem estética, tanto na pintura, na escultura, na dança, no teatro e na poesia, quando a imaginação do público reage, dialogando com sua própria mente; e mais ainda, nesta arte também existe, uma agressão a naturalidade comportamental, afastando o indivíduos da possível relação com o pensamento do autor. A “arte contemporânea”, tida como estilo novo de vida, jamais conseguirá transmitir inteiramente conteúdos, pois em sua maioria, são signos incompletos, quando têm conteúdo (significados), lhes falta forma (significantes), e quando tem forma lhes falta conteúdo, e quando não possui sinais, o publico vai embora e a esquece. Nos últimos anos, a ditadura de expressão chamada “Arte contemporânea”, afetou uma grande parte dos jovens, pois ela cria um canal de fuga irreal, uma referência de auto-determinação que parece segura, que entorpece a cada ano os adolescentes, como um “ópio substituto das drogas usuais”, usadas na tentativa de encontrar uma identidade intelectual. A arte atual (dito conceito imaterial), como modelo psico-social de formação humana, já está sendo usada em várias escolas e universidades, não como um estilo de expressão, algo de livre escolha, mas como uma seita avassaladora da condução do comportamento dos jovens, causando a alienação da consciência. Por outro lado, o gosto pessoal poderá desaparecer, por longo período, e existirão gerações de robotização comportamental, que virão impiedosamente, e apesar de tudo, em grande parte, não é culpa dos movimentos de arte e dos impulsos a novas tendências, mas de uma profunda perda de auto-confiança que já permeia os indivíduos no século 21.
Não se sabe, se vale à pena rever a história, para encontrarmos onde começou esta farta idiotice estética, pois são aproximadamente 50 anos de apelos desesperados pela mudança, de atitude artística, como se isto fosse a salvação das almas desorientadas. Marcel Duchamp, um dia, fez o seu protesto, nem mesmo considerando obra prima, e que apenas, em vez de o colocar na Rua, o colocou numa galeria de arte, em um nicho de força intelectual, pois se o tivesse feito em praça pública, teria sido esquecido para sempre. Sobre a força do objeto tornado símbolo, o próprio Duchamp afirmou, depois do fato consumado: “I threw the urinal in their face and now they come and admire it for its beauty”, “Eu enfiei o urinol na cara deles e agora eles vêm e o admiram por sua beleza”. E Já perto do final da vida, ele declarou: “não tenho muita certeza se o conceito de readymade não foi a única idéia realmente importante saída de minha obra”. A questão é que, no momento do pós-guerra, na recessão social americana, e na busca por soluções racionais da vida na época, o fato foi consumido e ficou eternizado. Aí é que mora o conflito: seria tão fácil se eternizar, em um país sem mídia e sem recursos políticos poderosos? Claro que, o tipo da catedral é que faz o santo ficar conhecido e forte. Ferreira Gullar em entrevista ao Jornal de Brasília (30/07/1993), explica: “Quando Duchamp enviou um urinol a um salão estava realizando um gesto de alto inconformismo e denunciando uma série de imposições que envolviam a arte naquele momento. O urinol não é obra de arte. Quando ele fez isto o seu gesto era rebeldia, mas hoje seria puro conformismo. As instituições já assimilaram este gesto. Esta atitude de denúncia e de arte sem linguagem já se exauriu”.
No Brasil é muito fácil se ver os efeitos desta avalanche de expressões conflitantes, que até nem deveriam ser chamadas de arte, pois, ela não ativa a emoção do publico. Procede-se quando a mensagem do autor se evapora por não haver estimulação da percepção dos indivíduos, o objeto criado se confunde com todos do ambiente diário, e por final, é despercebido e esquecido. E se não fosse a arte da fotografia e da gravação de imagens, dela, nada sobraria. A fonte de Duchamp tornou-se dogma no Brasil, pois é um modelo para não se usar a sensibilidade e o intelecto, apenas venerar e imitar, “algo”. Acontecem fatos incríveis com estas produções conceituais, como neste exemplo: um mendigo ao passar em frente a uma galeria de arte contemporânea, se deparou com uma velha mala na porta, e como ele não tinha mais que uma sacola de plástico, sentiu-se feliz com o achado, levou-a na mão. Mas logo escutou – pega o ladrão! Então, ele a largou e saiu correndo, e todos na rua cercaram a velha mala. Logo após, passaram os lixeiros, e a colocaram no caminhão de lixo. O autor, gritou da janela: – a mala é minha! Mas, de nada adiantou, a obra se foi. Era apenas um objeto sem diferença no cotidiano ambiental, e como estava estragado, teve o seu fim, assim como o conceito do autor. Na verdade, nada aconteceu, pois não havia Arte.

Atualmente, existe uma insistência infernal para se apagar o nome “artes plásticas” da expressão artística no Brasil, por causa das aventuras estéticas contemporâneas no mundo. Mas não é um problema, em certos casos, pode ser uma solução. Pois, as artes plásticas nunca irão se acabar, pois quem as produz sabe o que faz. Os tratados atuais de expressão tendem a intitular as artes plásticas, de apenas, “artes visuais”, mas isto já é obvio, e não altera nada, só que, ser visual é um requisito verdadeiro e já o era, desde a sua primeira criação, assim como na fotografia, no design, na arquitetura, no teatro, no cinema, na poesia, etc. A arte plástica será sempre uma expressão independente, pois não pertence aos tipos de expressão que se apresentam na “arte contemporânea”, que se afinam com: o teatro de rua, o circo, o cinema, a televisão, a ambientação, o vídeo-clip de roque, o auto-flagelo em público, matar animais em publico, a fotografia, a pornografia, o ritual de sadismo, a oratória política, etc. e estas não são ações das “artes plásticas”, daí soluciona-se o problema.

O que fica claro, é que as aventuras das Bienais (partindo de Veneza em direção a São Paulo) transformaram a expressão semântica, “artes visuais” numa nomenclatura oficial, para vários tipos de criações artísticas, incluindo até as artes plásticas, principalmente aqui no Brasil. O que se nota, é que o brasileiro se apegou com carinho, às ditaduras, é omisso e passivo por natureza, engole regras sem experimentar antes, e ainda, só chora quando o leite já foi derramado. As instituições públicas impregnadas de seguidores desta “nova seita”, criaram um canal aberto para estes aventureiros, e estão regulamentando um novo nome para uma profissão milenar (Artista Plástico). Só que, se formalizam uma institucionalização de maneira imposta, para um nome de uma profissão e sua atividade conseqüente, e assim se age contra a liberdade de expressão, ferindo a “Declaração Universal dos Direitos Humanos”. Fica aqui um alerta, para os seguidores da “nova seita da expressão artística”, da moda atual: quando se institucionaliza, uma profissão aleatoriamente, sem uma permissão legal da parte interessada, de forma incoerente com a realidade, corre-se o risco de se tornar um abuso aos direitos de liberdade, e uma tendência a se tornar um ato público controverso e até criminoso. Num futuro próximo, quando chegarem novas ordens políticas, alguém poderá ser responsabilizado por estas aventuras, em favor da escravidão da sensibilidade pública.